Refém do tempo - Fábio Bolba


Preso ao colapso urbano,
Sem vontade de seguir adiante,
Paro em meio à multidão,
Esperando o sinal abrir.
Talvez espere por mais de uma hora,
O tempo hoje está nublado,
Reflete meu terno de cor cinzenta,
Abafa o som dos pensamentos alheios.
Sou mais um na pluralidade,
Sinto que sou um grão de areia na ampulheta da vida,
Que brinca de ser o tempo,
Que dita às batidas do meu relógio.
Sufocado, sento-me no meio-fio,
Naquele mormaço, apenas aguardo,
Sou a angústia da minha própria espera,
Esperando pela brisa que chega de hora em hora.
As nuvens fazem seu coito celestial,
Numa confluência de tons nebulosos,
Que excitam minha pulsação,
E cativo, apenas observo o ato.
A precipitação inunda o afasto,
Sua abundância embaça meus ponteiros,
Levanto-me encharcado pela chuva,
Sentindo-me ainda mais aprisionado pelo tempo.
Refém do colapso.
Do sinal.
Refém da pluralidade.
Da areia.
Refém da ampulheta.
Do meio-fio.
Refém do mormaço.
Da angústia.
Refém da espera.
Da brisa.
Refém da chuva.
Dos ponteiros.
Refém do tempo.
Do tempo...


                                Fábio Bolba
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Vertigem - Fábio Bolba


Sinto a presença, a leveza,
Perco o contato com o chão,
Sinto a brisa acalorada,
Soprando ternamente.
De braços abertos,
Entrego-me a sensação,
Sou ser desprendido,
Neste bailar desconexo.
Na insensatez da razão,
No meu corpo sem eixo,
Sou um espaço do tempo,
Uma extensão de um sonho.
Perco-me na orla dos teus lábios,
Tento desvendar o enigma,
Anseio por tua voz, tua imagem,
Vôo nos braços do vento de feição.
E nas voltas do meu próprio devaneio,
Rodopio entre a melodia e a miragem,
Desejando-te somente em mim,
Embebido de odores e sabores teus.
O céu move-se em espirais vertiginosas,
Descompassando o pulsar das veias,
Desfalecendo meu corpo em teu amor,
Mas, morrendo dentro de ti.


                          Fábio Bolba
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